Pesquisadores discutem Europa e suas crises

A saída britânica da União Europeia, a crise dos refugiados e o terrorismo estão entre os temas da discussão

 20/09/2016 - Publicado há 8 anos
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Em junho deste ano, 51,9% dos britânicos decidiram a favor da saída do Reino Unido da União Europeia (UE). O processo, conduzido pela nova premiê Theresa May, só se iniciará em 2017, mas já provoca dúvidas sobre a coesão do bloco europeu e causa impactos na economia regional e mundial. Segundo a primeira previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) após o Brexit, a economia europeia crescerá 1,4% em 2017 ― 0,2% a menos em relação à expectativa pré-Brexit ―, enquanto o PIB global crescerá 3,4% no próximo ano ― 0,1% a menos do que se esperava antes da saída britânica do bloco.

Para a professora visitante Brigitte Weiffen, da Cátedra Martius de Estudos Alemães e Europeus do Departamento de Ciência Política da USP, o Brexit é reflexo da inabilidade da UE em enfrentar as crises dos últimos anos. “A União Europeia teve problemas em gerenciar as crises dos anos passados. Já houve muito debate e enfrentamento sobre os temas financeiros, provocando uma discussão, de ‘quem faz mais, quem faz menos, quem deveria fazer mais’”, explica. 

Segundo a docente, a ausência de resolução da crise financeira eclodida em 2009 ― que afetou países como a Grécia, a Irlanda, a Espanha e Portugal, mas que ressoou em todo o bloco europeu ― influencia também nas duas mais recentes crises europeias. “Se a situação econômica estivesse boa, seria mais fácil lidar com a crise dos refugiados, por exemplo, ou com essas questões do terrorismo”, aponta Brigitte.

A enorme quantidade de sírios, líbios e pessoas de diversas outras nacionalidades chegando ao continente europeu tem provocado a ascensão de partidos de extrema direita. Segundo a professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, esses partidos populistas se apoiam na generalização dos refugiados ― em sua maioria de origem muçulmana ― como terroristas. Com a chegada desses grupos ao poder em países como a Polônia e a Hungria, a crise dos refugiados tem se aprofundado. 

Crise dos refugiados é um dos focos das discussões das VII Jornadas Europeias – Foto: Manu Gomez/Fotomovimiento

Para o professor visitante do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD, na sigla em alemão) na Faculdade de Direito (FD) da USP, Sven Korzilius, “a questão dos refugiados é um dos grandes testes para a Europa, (no sentido de verificar) a solidez da tradição de proteção de direitos humanos”. Citando o filósofo prussiano Immanuel Kant, o docente afirma que “a maneira pela qual nós tratamos os refugiados, caracteriza o nosso verdadeiro humanismo”.

Korzilius e Brigitte são coorganizadores das Oitavas Jornadas Europeias. O evento, entre os dias 19 e 21 de setembro, na FD, tem como tema a “Europa em tempos de crise”. Segundo ambos, as jornadas têm como objetivo reunir os pesquisadores sobre a Europa no Brasil, fortalecendo as redes e evitando que os estudiosos do continente europeu fiquem isolados em seus institutos. Além disso, a possibilidade de analisar os problemas de ambos os continentes em perspectiva comparada pode trazer à tona soluções em comum. “É uma perspectiva interessante, olhar para essas diferenças e semelhanças das crises e olhar também se tem soluções que foram usadas na Europa ou na América Latina que podem ser aplicadas na ótica da outra região”, explica Brigitte.

A oitava edição do evento é dividida entre palestras, oficinas e workshops. Além das consequências “econômicas, políticas e jurídicas” do Brexit, a crise dos refugiados e as crises econômica e financeira do bloco, o seminário também está debatendo as “questões de identidade e integração, as ameaças à democracia, desafios da governança ambiental e o futuro do modelo europeu”. As inscrições ainda estão abertas e são gratuitas. O evento, que não terá transmissão on-line, será realizado no Largo São Francisco, 95.


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