Liquefação pode ter causado desastre em Brumadinho

Professor analisa relatório divulgado e discute antecedentes que levaram à ruptura da barragem da Vale

 08/02/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 11/02/2019 as 9:07

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No programa O Ambiente É Nosso Meio desta semana, o assunto é Brumadinho. Nesta sexta-feira, 8, completam-se duas semanas que a barragem da Vale em Brumadinho rompeu e provocou a morte de mais de 150 pessoas, restando cerca de 180 desaparecidos. Esse desastre ocorreu pouco mais de três anos após Mariana e as lições daquela tragédia não foram aprendidas. Por que esse desastre aconteceu? Para falar sobre o assunto, o Jornal da USP no Ar conversa com Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente e do Projeto Temático Fapesp Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista.

O rompimento da barragem foi uma tragédia anunciada, segundo Côrtes. Ele diz que, ao analisar o vídeo que mostra a ruptura da barragem, é mais provável que tenha acontecido o fenômeno da liquefação, levando ao colapso da estrutura. A liquefação ocorre quando uma substância muda suas características físicas momentaneamente, no caso, a lama. Ela passa de sólida para líquida, fenômeno causado pela força da água presente no solo. “Essa água, quando é movimentada, funciona como uma espécie de lubrificante entre os grãos” explica. Um relatório elaborado em agosto de 2018 e divulgado após o incidente indicava um fator de segurança muito baixo, o que é arriscado. O relatório admitia a possibilidade de falha por liquefação, apesar de atestar sua estabilidade.

Região atingida pelo rompimento da barragem de Brumadinho (MG) – Foto: Polícia Militar de MG via Fotos Públicas

Para Côrtes, o documento também atesta que, desde o ano passado, já era conhecido que a barragem estava na iminência de sofrer esse fenômeno. Para ocorrer, no entanto, é necessário que exista um gatilho. Dentre as possibilidades, estão os caminhões pesados, detonações, perfurações, atividades que geram vibrações excessivas, apesar de corriqueiras no local. Outro fator relevante, diz Côrtes, é que não houve revisão da barragem posterior ao relatório. “Esse relatório, uma vez pronto, atendeu aos interesses da contratante e nenhuma ação posterior foi requerida para solicitar esclarecimentos”,  destaca.

Outro questionamento feito pelo professor está relacionado ao fato de que o carregamento do minério é realizado logo abaixo da barragem. Para realizar a manutenção adequada do local, seria necessário paralisar também a mineração. “Como essa barragem não estava mais sendo utilizada, durante algum tempo não se prestou tanta atenção e os problemas foram se avolumando.” Além disso, não foi acionado um protocolo que garantisse a segurança dos funcionários da mina e da população próxima.

Para aprofundar o assunto, dia 14 de fevereiro, acontece o evento Brumadinho Pós-Mariana – Lições Não Aprendidas no Instituto de Estudos Avançados da USP. O evento ocorre das 14h às 17h, é aberto e gratuito, sem necessidade de inscrição. Também será transmitido ao vivo pelo site do IEA.


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