Instituto de Química de São Carlos pesquisa novo medicamento contra doença de Chagas

Se bem-sucedidas, as pesquisas poderão redundar em um tratamento eficaz para uma moléstia que ainda faz muitas vítimas no Brasil

 04/10/2016 - Publicado há 8 anos

Acompanhe a entrevista concedida pelo doutorando do Instituto de Química da USP de São Carlos, José Carlos Quilles Júnior, à repórter Marcia Avanza:

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Moléstia causada pela picada do inseto popularmente conhecido como barbeiro, a doença de Chagas afeta pelo menos 1 milhão de brasileiros, segundo informação divulgada, em abril de 2016,  pelo Portal da Saúde do Ministério da Saúde. A doença, que ocorre quando há infecção humana pelo protozoário Trypanosoma cruzi, provoca complicações em vários órgãos e pode levar à morte, ainda não tem vacina preventiva. Hoje, já se sabe que, além da picada do inseto, a principal forma de transmissão da doença é pela ingestão de alimentos contaminados pelas fezes do barbeiro, hospedeiro do protozoário. A alternativa  atual de tratamento  é o benzonidazol, único fármaco  disponível no Brasil, porém pouco eficaz, uma vez que atua principalmente na fase aguda da doença, quando esta já se encontra num estágio avançado e a administração desse  medicamento pouco pode fazer.

Espécie de barbeiro que transmite a doença de chagas - Foto: Museu da Vida/COC/FIOCRUZ
Espécie de barbeiro que transmite a doença de Chagas – Foto: Museu da Vida/COC/Fiocruz

A boa notícia, contudo, é a de que um grupo do Instituto de Química da USP de São Carlos está pesquisando novas formas de tratamento para a doença de Chagas, como informa, em entrevista à repórter Marcia Avanza, o pesquisador José Carlos Quilles Júnior, daquela instituição. Os trabalhos partem do estudo de uma enzima, “que é uma molécula essencial para a vida e a reprodução do parasita transmissor da doença”, explica ele. De acordo o pesquisador, que é doutorando do Instituto de Química, “estudos indicam que a inibição dessa enzima dentro da célula do protozoário leva à morte deste”. A função dessa enzima é exercer várias funções vitais para a sobrevivência do protozoário, cumprindo importante papel inclusive no processo de transmissão da doença ao homem.

Estudos realizados in vitro mostraram que “a inibição dessa enzima diminui e até mesmo evita o processo de infecção”. Mais importante: pode causar a morte dos protozoários, “tanto os que já se encontram no interior da célula do hospedeiro como aqueles que estão fora dela.  A ideia, a partir da transformação dessas moléculas em fármacos,  é de que possam ser administrados diretamente em pacientes portadores da doença de Chagas”,  revela Quilles.

José Carlos Quilles Júnior, do IQSC - Foto: Divulgação
José Carlos Quilles Júnior, do IQSC – Foto: Divulgação

Os estudos ainda se encontram em estágio inicial, mas estão evoluindo, apesar de ainda ser necessário o preenchimento de várias etapas e de um tempo estimado em até 20 anos para  o medicamento poder ser utilizado com plena segurança e estar disponível no mercado.  Quilles diz que há outros grupos de pesquisa no mundo que trabalham com a mesma finalidade, ou seja, “tentar validar a enzima como alvo, transformando as moléculas em fármacos para o tratamento da moléstia”.

A doença de Chagas é classificada como negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que significa que ela não recebe a devida atenção desse órgão por se tratar de uma doença característica de regiões subdesenvolvidas. Uma pesquisa publicada em 2014 pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz  (INCQS/Fiocruz) revelou que a ocorrência de doença de Chagas aguda, por consumo de alimentos contaminados (transmissão oral),  tornou-se frequente na região amazônica e  está relacionado à ocorrência de casos em outros Estados brasileiros.  A incidência da doença é maior nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.

 

 

 


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