Esquizofrenia gera estigma e preconceito

Helio Elkis diz que a doença mental sem tratamento gera risco de suicídio

 06/07/2017 - Publicado há 7 anos
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Ouvir vozes, paranoia, ver algo que ninguém mais vê, crenças extremistas mal fundamentadas, descuido consigo mesmo, hostilidade, fala incompreensível e mudança na personalidade são alguns dos possíveis sintomas de esquizofrenia – Foto: Marco Castellani / Flickr via Wikimedia Commons / CC BY-SA 2.0

Uma pesquisa  rápida pelos sites de busca da internet vai revelar que esquizofrenia é um termo de origem grega, cujo significado –  mente dividida – remete à dissociação que existe entre o pensamento de um determinado indivíduo e a realidade à sua volta. No início da humanidade, essa doença mental era vista como um castigo dos deuses ou como indício de possessão demoníaca. Por sorte, de lá para cá muita coisa mudou, mas o fato é que o desconhecimento sobre a doença estigmatizou-a ao longo dos séculos.

A psiquiatria Carmita Abdo, livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, orienta sobre os primeiros sinais da doença, que nem sempre se manifesta por meio de alucinações ou delírios, como comumente se pensa, os quais só aparecem nos surtos mais agudos. Muitas vezes, diz a médica, a doença se revela por uma mudança de comportamento, por reações estranhas aos familiares ou por uma forma de interpretar fatos que nem sempre correspondem ao usual. A atenção deve ser redobrada quando esses sintomas iniciais surgem na adolescência ou em adultos jovens. “Quanto mais precoce o tratamento, melhor o prognóstico e a evolução da doença”, afirma a médica.

“As pessoas precisam entender que o cérebro é um órgão e que, portanto, está sujeito a desandar como qualquer outra parte do corpo. Uma vez que o cérebro desande, altera o comportamento da pessoa”, explica o vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Itiro Shirakawa. No entanto, e com o tratamento adequado – que possibilita a remissão dos sintomas -, o portador de esquizofrenia pode ser inserido no trabalho ou no meio social. Não se deve ignorar, contudo, que um grande problema a ser enfrentado é o preconceito que ainda gravita em torno da doença.

Gatos de Wain conforme os sintomas de esquizofrenia avançavam Ilustração- Louis Wain / Doínio Público via Wikimedia Commons

O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP mantém, há 27 anos, o Programa de Esquizofrenia (Projesq), que desenvolve pesquisas e estudos sobre essa doença mental. Fundador e coordenador do Projesq, o professor Helio Elkis, associado do Departamento de Psiquiatria da USP, informa que há um risco muito grande de suicídio nos pacientes com doença mental sem tratamento, tese com a qual concorda o médico da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Egídio Nardi. Ele frisa que só o tratamento psiquiátrico pode levar à cura da depressão e dos pensamentos de morte. Para isso, no entanto, é preciso se livrar do preconceito que ainda existe em torno de muitas da doenças mentais –  e da esquizofrenia em particular.

“O importante é que, com o conhecimento, vem, consequentemente, o menor preconceito em relação aos transtornos mentais”, diz ele, ao destacar que apenas uma ajuda profissional poderá fazer o diagnóstico correto e indicar o tratamento adequado, a fim de que o paciente não tenha o seu quadro agravado. “O desconhecimento, o preconceito, infelizmente leva a pessoa a sofrer demais e, claro, a aumentar o risco de suicídio. Às vezes, o preconceito do próprio paciente faz com que sofra e não procure ajuda adequada”.


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