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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, no dia 10/6, uma Carta de Conjuntura onde avalia os novos dados do desemprego no Brasil, referentes aos primeiros meses de 2016. O índice médio de desemprego atingiu 11,2% (3,2% superior ao registrado no mesmo período do ano passado) mas, segundo o documento, este não é o dado mais alarmante. O que mais preocupa é o crescimento da taxa de inocupação entre os jovens de 14 a 24 anos, que subiu de 15,25% no último trimestre de 2015 para 26,36% no primeiro trimestre deste ano.
Hélio Zylberstajn, especialista em mercado de trabalho da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, explica que a recessão pela qual o Brasil passa tem relação direta com o aumento do desemprego: “Como a atividade econômica caiu drasticamente no ano passado e continua caindo neste ano, as empresas deixaram de contratar novos trabalhadores – ou estão contratando menos do que o habitual – e passaram a demitir mais”.
Sobre a severidade da situação para os jovens, Zylberstajn salienta que não só no Brasil, mas em todo o mundo, os mais novos compõem a parcela mais vulnerável da população. Segundo ele, isto acontece porque este grupo geralmente não tem experiência profissional prévia e “as empresas priorizam os trabalhadores que já passaram pelo mercado de trabalho”. A crise econômica também contribui para o acirramento da competição pelos postos.
A situação fica ainda mais difícil em momentos como o que estamos vivendo, onde o jovem compete com um trabalhador já experiente que foi demitido.
A Carta do Ipea também revela que, em anos anteriores, o crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) era o principal motivo do aumento do desemprego. Desde o fim de 2014, no entanto, a constante queda da População Ocupada (PO) assumiu como fator decisivo deste aumento. O professor esclarece que a PEA compreende as pessoas que estão no mercado de trabalho – empregadas ou buscando emprego – e a PO abrange somente as que estão trabalhando. “As pessoas continuam chegando ao mercado de trabalho, então a PEA ainda cresce, mas parte das ocupadas estão perdendo seus empregos, o que faz com a PO diminua de maneira mais relevante”, conclui.
Segundo o documento, a queda das contratações tem sido muito mais notável do que o aumento dos desligamentos, que se mantiveram relativamente estáveis nos últimos anos. Por conta da crise econômica, caíram também as demissões voluntárias. Ambos os movimentos, portanto, dificultam a inserção definitiva no mercado de trabalho e têm influenciado os desempregados a migrarem para o trabalho autônomo. Para Zylberstajn, trata-se de um mecanismo de sobrevivência: “As pessoas que não encontram um emprego precisam de renda para sobreviver, então elas criam seu próprio trabalho”. Ele frisa, entretanto, que este tipo de ocupação é geralmente mais precário e deteriora a qualidade do emprego. “Na grande maioria das vezes este trabalhador é informal, ou seja, não recolhe impostos e não está filiado à Previdência Social”, complementa o professor.
A Carta revela ainda que, além dos jovens, os moradores de regiões metropolitanas estão sendo mais gravemente atingidos pelo desemprego. O professor elucida que isto se deve ao fato de estas regiões concentrarem um grande número de indústrias. Segundo ele, “os empregos industriais têm caído vertiginosamente no Brasil. O alto valor do real, mantido artificialmente neste patamar, dificultava as exportações e facilitava as importações, o que tornou a competição quase inviável para a indústria nacional”.
Para garantir seus postos de trabalho durante períodos de crise, os jovens devem se blindar. De acordo com Zylberstajn, este momento deve ser utilizado para acumular aquilo que o mercado de trabalho exige: capital humano. “Minha sugestão é que o jovem fique atento às oportunidades que existem, seja menos seletivo ao procurar emprego e procure usar este período para acumular experiência”, comenta. O professor acredita que os jovens devem se organizar no momento para fazer cursos, se concentrar nos estudos e manter boas notas, o que garantirá um bom cartão de visitas para quando a situação econômica se regularizar.
Ouça a entrevista:
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