Ouça a entrevista com o médico neurologista Dagoberto Calegaro, coordenador do Ambulatório de Esclerose Múltipla do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP:
Foi registrado no País, pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o primeiro medicamento à base de Cannabis sativa. O Mevatyl é indicado para o tratamento sintomático da espasticidade moderada a grave relacionada à Esclerose Múltipla (EM). Ele é destinado a pacientes adultos que não respondem a outros medicamentos comumente usados para essa finalidade.
A espasticidade é um dos sintomas mais comuns da EM, podendo afetar 80% das pessoas que apresentam a moléstia, em algum momento de sua vida. Ela é o resultado de um desequilíbrio do controle da função motora como consequência de lesão no sistema nervoso central, cérebro ou medula.
Nesse sentido, o Mevatyl é destinado ao uso em adição à medicação antiespástica atual do paciente e está aprovado em outros 28 países, incluindo Canadá, Estados Unidos, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Suíça e Israel.
“Ela é mais uma droga para se somar às drogas que já temos disponíveis”, explica o médico neurologista Dagoberto Calegaro, que falou em entrevista à Rádio USP. “Não é indicada para tratar um sintoma órfão de terapêuticas, pois já se tem drogas para conduzir um paciente, controlando a espasticidade.”
Os produtos atualmente existentes para o tratamento sintomático da espasticidade são utilizados há mais de duas décadas, porém nem todos os pacientes apresentam resultados eficazes no controle do problema. O doutor Calegaro esclarece que cada uma das medicações tem a sua localização de funcionamento dentro da medula. “Do local exato do funcionamento dessa droga derivada da Cannabis sativa nós não temos uma definição precisa, mas ela tem apresentado resultados satisfatórios em estudos clínicos”, os quais foram se aprimorando ao longo de uma década e meia.
O médico sublinha que a eficácia terapêutica é individual, ou seja, não serve para todos os pacientes de forma indiscriminada. Da mesma forma, a droga não é indicada para o tratamento da epilepsia. “Há estudos para o controle de algumas formas de epilepsia, mas os resultados ainda não são satisfatórios.”
Àqueles que possam se preocupar com a possibilidade de o medicamento à base da Cannabis sativa apresentar algum tipo de dependência, o doutor Calegaro tranquiliza. Segundo ele, não se tem conhecimento desse efeito colateral, uma vez que são utilizadas apenas partes da Cannabis e não a molécula completa da planta.