“A definição do futuro do Brasil vai passar por São Paulo”, diz professor

James Wright, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, destaca a importância da capital paulista em apresentação de projeto de desenvolvimento

 31/10/2016 - Publicado há 7 anos
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Professor James Wright demonstra a equipe por trás do projeto SP2040 Local: FEA - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Professor James Wright demonstra a equipe por trás do projeto SP2040 – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens


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O sexto evento do ciclo de conferências
Repensar o Brasil, que celebra os 70 anos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP colocando em pauta assuntos relevantes no presente que influenciarão o futuro do País, teve como tema Repensar São Paulo para repensar o Brasil. No encontro, realizado na manhã de quinta-feira, 27 de outubro, o professor James Wright, da FEA, apresentou o plano de desenvolvimento SP2040, desenvolvido sob sua liderança em 2010 após convite da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo.

O projeto, inspirado em modelos de desenvolvimento de longo prazo de outras grandes cidades do mundo como Londres e Nova York, deveria ser aplicado por um período de 30 anos, e é um exemplo do que Wright afirma ser necessário para o Brasil. “O Brasil precisa discutir seu futuro, não sabemos muito bem onde queremos chegar. Precisamos ter uma ideia comum mais ou menos definida disso, e isso passa por São Paulo, que é a cidade mais importante do Brasil, que mobiliza o País, é o centro dos negócios”, afirma.

O professor destaca que São Paulo é a maior cidade do Hemisfério Sul – segundo ele, a cidade cresceu vertiginosamente, mais do que qualquer outro lugar nos últimos 150 anos -, e por isso deveria ser um exemplo de desenvolvimento. Com esse objetivo, Wright reuniu pesquisadores de várias faculdades da USP, como a FEA, a Escola Politécnica (Poli) e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), além de especialistas ligados à Prefeitura de São Paulo e consultores internacionais envolvidos nos projetos de Londres e de Nova York, para fazer um diagnóstico da capital paulista, mirando questões como mobilidade, inclusão social, meio ambiente, negócios, tecnologia e urbanismo, para traçar um plano que fosse muito além de uma única administração da Prefeitura.

“Precisamos de um foco claro em um padrão global”, afirma o professor James Wright – Local: FEA – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Dois dos principais problemas apontados pelo professor Wright são a moradia e a mobilidade. “A questão da moradia em São Paulo é precária, basta ver as favelas ao lado da marginal, e a própria São Remo, que tem uma situação melhor que a média, ainda assim poderia ser muito mais bem suprida de serviços públicos”, avalia.

A primeira coisa a ser feita, de acordo com o professor, é extrapolar o passado. “Se continuarmos crescendo baseados no transporte individual, a cidade vai parar. Você perde espaço físico, tem um aumento da poluição (que diversos estudos mostram que causa sérios danos à saúde de quem habita grandes cidades), e com isso o Índice de Desenvolvimento Humano cai, as pessoas vão embora, perde-se infraestrutura e interesse em investimentos”, explica Wright. Ele dá o exemplo de Nova York, dizendo que em 1976 a cidade estava falida justamente por esses problema, e depois de aplicar seu próprio plano de desenvolvimento, mudou completamente. “Hoje os habitantes de Nova York têm orgulho da cidade. Temos que criar esse sentimento de pertencimento em São Paulo.”

Wright ressalta que as propostas do SP2040 não foram só obra de especialistas e acadêmicos. Segundo ele, houve consulta popular via internet e em lugares como estações de metrô e parques, além de workshops nas 31 subprefeituras da cidade, totalizando por volta de 25 mil participantes que puderam declarar quais seriam suas prioridades para o desenvolvimento da cidade. “A abordagem era ‘qual a cidade que você quer para o seu filho?’, e isso gerou um engajamento que me surpreendeu. A maioria das pessoas definiu como prioridades questões como o cuidado com os rios da cidade, criação de parques, melhorias no transporte público e a descentralização, mas deixou um pouco de lado a ideia de criar uma cidade competitiva, o que é natural, essa cultura não é muito difundida na população brasileira”, relata o professor.

Dentre os fatores que Wright caracteriza como essenciais para o plano ser levado adiante estão a participação da iniciativa privada (principalmente através de parcerias público-privadas), uma educação de qualidade e o aproveitamento dos avanços da tecnologia, especialmente na área computacional-cognitiva, isto é, computadores que tenham capacidade cognitiva humana, que, segundo o professor, até 2020 serão mais difundidos e acessíveis para as administrações públicas e empresas.

O uso da tecnologia será especialmente importante, de acordo com o professor Wright, no cenário que se desenha do amadurecimento da população brasileira, com o fim do chamado “bônus demográfico” (quando a população economicamente ativa supera a que não contribui para a economia) e o crescimento da faixa etária acima dos 60 anos até 2040. “O número de trabalhadores não vai crescer, e atualmente o trabalhador médio no Brasil gera um produto anual de cerca de R$ 30 mil. Para aumentar a renda, temos que aumentar essa produtividade. Se quisermos chegar ao nível de renda de Portugal, por exemplo, que é o dobro do nosso, nosso trabalhador médio tem que passar a produzir cerca de R$ 60 mil por ano, o dobro do que produz hoje”, explica.

O meio para chegar a esse aumento de produtividade, segundo Wright, não é aumentando a carga horária (que ele acredita ser “adequada, até um pouco alta” no Brasil), mas, sim, empregando mais tecnologia ao trabalho, diminuindo a burocracia (que o professor diz gerar trabalho inútil), desenvolver produtos de maior valor e qualidade. “Só redistribuir renda não basta, tem que aumentar o valor do trabalho”, afirma.

O cenário que o projeto SP2040 desenha para São Paulo é o de uma cidade policêntrica, e esses muitos centros teriam “vida própria”, com serviços, trabalho e qualidade de vida para os moradores. É o que Wright chama de um “adensamento das regiões da cidade”, fazendo com que grandes massas de trabalhadores não precisem se deslocar diariamente e a altos custos da periferia para o centro da cidade, e, quando for necessário fazê-lo, que haja transporte público e mobilidade de qualidade. “Temos uma projeção de que a população da Grande São Paulo chegue a 22 milhões até 2040, e esperamos que a renda média seja o dobro da atual. O projeto é de uma cidade mais humana, mais ativa e mais competitiva, com um padrão global de desenvolvimento”, resume o professor.

A próxima conferência do ciclo Repensar o Brasil acontece no dia 8 de novembro e tratará do tema Gestão pública e protagonismo cidadão no Brasil, a ser apresentada pela professora da FEA Ana Carolina Rodrigues em companhia do Comitê de Estudantes da FEA e dos grupos Centro de Liderança Pública e Vetor Brasil. Dessa vez, o evento será no período da tarde, às 17 horas, no Salão de Conferências da FEA.

Ouça abaixo entrevista do repórter Diego Smirne com o professor James Wright para a Rádio USP:

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