Daí, eu lembrar que o conteúdo de “Revisão das Falas?” será narrado em capítulos, como em uma novela. Este é, portanto, o capítulo em que confirmo minha definição de ‘‘rica’’ na exclamação: “nossa pobre rica língua portuguesa!”
Rica!
Sim, com certeza, herdamos uma das mais ricas línguas do mundo. Rica em sonoridade — não fosse essa uma das principais virtudes das línguas latinas — rica em vocabulário e, acima de tudo, rica em poder de expressão. Ora, delicada como uma flor à luz da lua; ora, um relâmpago anunciando a tempestade. Mas sempre tendo algo a dizer. Na poesia, toda musicalidade das palavras, a rima perfeita. Na música, a harmonia com os instrumentos mais delicados, ou a mostrar a energia daqueles mais vibrantes.
De modo geral, seu som é agradável, bastando pronunciar corretamente as palavras. Mas também se deve conjugar os verbos nos tempos certos, não derrapar na concordância etc… Claro, não é só falar, mas, também, escrever bem (mas como o assunto, agora, é falar, sigamos em frente). Falar Português é coisa de causar inveja! Quantas vezes não ouvi alguém, empenhado em aprender a nossa língua, dizer: ”É difícil pra burro! Mas compensa…” (Ainda bem que o turista não usou a nova versão “Prá caramba! (sobre a qual tenho uma historinha para contar – oportunamente.)
O conteúdo de “Revisão das Falas?” será narrado em capítulos, como em uma novela. Este é, portanto, o capítulo em que confirmo minha definição de ‘‘rica’’ na exclamação: “nossa pobre rica língua portuguesa!”
Agora que me expliquei sobre o uso de adjetivos aparentemente contraditórios na definição da nossa língua e, para que não pensem que o tema principal desta matéria foi esquecido, afirmo que estou realmente interessado no assunto revisão nas falas. A propósito, como comentei de passagem no primeiro capítulo, a revisão “a posteriori” merecia um nome… Que tal Pós-Revisão, que sugere exatamente a pretendida captura do erro ou ofensa-ao-idioma, para correção futura? (ou seja, uma vacina, para evitar a repetição da falha). Lembrem-se de que estou apenas sugerindo um nome, justamente para começar a receber contribuições dos leitores. A propósito, caros leitores, já perceberam que cada opinião dada (pró, contra, muito-pelo-contrário) será de muita utilidade neste projeto? Ainda não abordamos a fundo quais os novos passos, se nossa modesta campanha prosperar. No capítulo anterior, demos sinais sobre possibilidades de ajudar a proteger nossa pobre rica língua. E, como corrigir um erro, impondo a nossa opinião, não parece ser a atitude correta na fase de sondagem, nada como consultar um especialista – e foi o que fiz.
–Que diabo é isso de revisar as falas? Você está ficando maluco?
–Já me perguntaram a mesma coisa … Mas eu quero o seu parecer de especialista.
–Vá lá… Mas não cite o meu nome! Bem… Você deu como exemplo essa nova mania de sempre a pessoa colocar o sujeito do verbo duas vezes no começo da fala… Claro que está errado. Não há necessidade alguma de dizer): As mulheres, elas estão mudando… O mundo, ele precisa…etc…etc… Acho que a intenção é valorizar o sujeito, dando-lhe mais peso na frase…
-Mas está errado, não é?
Deixei meu amigo aparentemente preocupado com a questão… ou seria comigo? Não posso culpá-lo por não vibrar com o projeto. Já temos tanta coisa em que pensar… e agora mais essa! Para refrescar as ideias, estou, neste momento, verificando a colheita de ontem. Anotados: 13 exemplos de vícios (de linguagem), 7 cacófatos, 9 erros de concordância e não-sei-quantos “nés”. Gravados (apenas para registro, não para “dedurar os outros): verbos no infinitivo sem usar o “r” no final da palavra) 35! E foram só duas horas de escuta, metade no rádio, metade na tevê. Epa! Pouco antes de desligá-la, ouvi esta: “…a gente entra dentro da cadeia e…” – o pleonasmo do dia!
Na condição de “revisor-amador”, fiquei peocupado com o número, para mim alarmante, de infrigências à gramática e a outros quesitos, que pude flagrar em dois dias! (Um profissional de revisão zeloso deverá obter dados ainda mais significativos.) Mas minha missão é pesquisar e sugerir ajuda àqueles que dependem do bom uso da língua falada, para, por exemplo, chegar à Universidade ou conquistar um emprego. Ou, ainda – e fundamentalmente – proteger a nossa pobre rica língua portuguesa. Entendo, também, que está chegando a hora de o rádio e a televisão aceitarem sua parcela de culpa por não exercerem a revisão nas falas da mesma forma que o fazem outros meios de comunicação, em relação à escrita.
Comentário: Veremos, no próximo capítulo, como reagem os leitores aos nossos apelos! Não hesitem em se contrapor aos meus argumentos , nem a simplesmente considerá-los tão descabidos que nem merecem uma análise . Se tudo se resumir a uma simples questão de opinião, tudo bem. Dou a mão à palmatória e, ainda, peço desculpas.
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