Guilherme Weffort Rodolfo – Foto: Arquivo Pessoal
A iniciativa do MusicArte surgiu do PGEHA, Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo, que, por navegar pelos ideais contemporâneos das artes, entende também a música como argumento preponderante das artes visuais. Dessa forma, das músicas para cinema às obras de arte contemporâneas musicadas, ou ainda, das partituras gráficas aos cromatismos visuais e musicais de autores como Paul Klee, boa parte do percurso artístico mundial se estabelece pelas significações visuais ligadas às sonoridades musicais. O MAC, Museu de Arte Contemporânea da USP, será a sede do evento, que já conta com uma “chamada para artigos” destinada aos interessados na publicação e na apresentação de seus temas em mesas. O I MusicArte aceitará submissões até o dia 31 de julho.
O tema que o simpósio tratará é de extrema importância, afinal o estudo que observa a fusão entre música e arte passou por muitas abordagens, deixando uma verdadeira trilha de influências e motivações. A música já foi a possível influenciadora da antiga educação grega, muito bem descrita em tratados sobre o ethos musical, além de ter sido o alicerce narrativo do teatro dos mesmos gregos. Distante da antiga Grécia, a música passou por ligações com a arquitetura, com a pintura e, posteriormente, com o cinema, deixando uma medida em progressão ainda por avaliar. Em ampla análise, se tratado pela ótica da linguagem, o canto, fundador dos conceitos musicais, se ocupa da fusão da língua com a métrica, entoado com melodias. Assim, a poesia cantada tenta significar imagens descritas em contos ou mitos, desde os princípios dos estudos históricos sobre a música. Essas fusões propositais são alguns dos exemplos do amplo campo abordado pelos pesquisadores participantes do I MusicArte.
Percebemos as aproximações que impelem artistas ao contato com a música quando da composição de suas obras. Passando pelas pinturas que representam graficamente músicos ou festas musicadas, a que chamamos de iconografias musicais, até as obras visuais inspiradas em músicas e seu inverso, ou seja: músicas inspiradas em pinturas. Sobre essa influência direta, podemos citar o quadro Impressão III, de Wassily Kandinsky, de 1911, pintado quando da escuta das Três peças para piano opus 11, de Arnold Schoenberg. Ou ainda a peça para piano de Modesto Mussorgysky, Quadros de uma exposição, de 1874, que presta homenagem à exposição de quadros de Viktor Hartmann.
Com isso, podem-se avaliar esforços de autores e compositores que caminhem pela interferência das artes. Essa “contaminação” de meios é proposital, sendo a inserção musical, em notas ou em sons, uma ação que estimula a ampliação dos sentidos. O som não obedece a barreiras, como a borda do quadro ou os limites de uma escultura. Isso também ocorre no cinema: essa relação se apresenta uma vez que a música da cena ultrapassa conceitualmente o espaço da tela, dando maior amplitude à narrativa, ou até alterando-as em sentido. O efeito de ampliação sensível pela música pode ser observado nas antigas fontes de águas com música, sirenes de carros, óperas ou videoclipes atuais. O conceito sempre existiu, mas raramente foi estudado em sua profundidade.
O MAC, Museu de Arte Contemporânea da USP, será a sede do evento, que já conta com uma “chamada para artigos” destinada aos interessados na publicação e na apresentação de seus temas em mesas. O I MusicArte aceitará submissões até o dia 31 de julho
Desde o início da organização do I MusicArte, juntamente com os professores Edson Leite e Carmen Aranha, ambos do PGEHA, procuro divulgar o evento através de sua natureza ubíqua, ou seja, não distanciando os elos da corrente, mas unindo-os. Mesmo em uma análise que tende ao fracionamento dos elementos, devemos observar uma resultante músico-visual, uma enunciação sincrética e formadora de estesia. Música e artes visuais devem ser lidas como um só texto, único como percebemos em nosso inconsciente, uma visão ampla de nossos sentidos. Aliás, Campo dos Sentidos é o tema desta primeira edição do simpósio.
A vontade de tratar um assunto dessa proporção vem de longe. Em minha pesquisa de doutorado, percebi o efeito predicador da música que, analisando sua ação no cinema, exerce uma sobreposição às cenas. Com isso, pude analisar as operações preponderantes da música, ou seja, a música tem a capacidade de mudar, aumentar ou desviar, o significado da cena. Durante a pesquisa, ficou evidente a necessidade de uma exploração maior dessa interdisciplinaridade ainda pouco, ou nada, argumentada em universidades brasileiras e com poucos exemplos científicos satisfatórios. Dessa forma, poderemos ver e ouvir a ciência da música em convivência com as artes visuais, seus efeitos, reflexos, história e análises neste I Simpósio Internacional MusicArte.