Estimativa da safra americana atrapalhou agosto

Marcos Fava Neves é professor titular da FEA/USP, campus de Ribeirão Preto

 04/09/2017 - Publicado há 7 anos

Marcos Fava Neves – Foto: Francisco Emolo / USP Imagens
A nova estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), agosto, para a safra de grãos 2016/2017 está em 238,22 milhões de toneladas, 27,7% a mais que as 186,6 milhões de 2015/16. Agregamos em apenas um ano 51,6 milhões de toneladas de grãos. A área cultivada é de quase 60,66 milhões de hectares, 4% maior que na safra anterior. Mais de 2,2 milhões de hectares adicionais servindo ao desenvolvimento do Brasil.

Nos preços das commodities alimentares globais medidas pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), julho foi bom. O índice de preços chegou a 179,1 pontos, 3,9% acima de junho e 10% acima do mesmo mês de 2016. Fomos ajudados pelo leite (subiu mais de 3,6%), cereais (5%) e açúcar (subiu 5%). As carnes e óleos vegetais ficaram na mesma. Vamos verificar agora no próximo mês o efeito da estimativa de safra do USDA, que surpreendeu para cima em termos de produtividade e derrubou os preços de soja e milho.

Em julho continuamos com excelente performance nas exportações. Foram US$ 8,3 bilhões, praticamente 5,8% mais que junho de 2016, deixando um superávit de US$ 7,2 bilhões. No acumulado de janeiro a julho o agro trouxe US$ 56,4 bilhões, quase 6,8% acima de 2016. O superávit deixado já está em US$ 48 bilhões neste ano. A soja vem sendo o destaque do ano e em julho foram exportados mais US$ 3,1 bilhões. Somente o complexo soja trouxe ao Brasil incríveis US$ 20 bilhões no primeiro semestre. Devemos exportar mais de 64 milhões de toneladas de soja (até julho já foram 51,9 milhões) que poderão trazer ao Brasil US$ 23,4 bilhões e, somando óleo e farelo, chegamos perto de impressionantes US$ 30 bilhões.

A novidade empresarial do mês foi a inauguração da usina de milho da FS Bioenergia em Lucas do Rio Verde, investimento de R$ 450 milhões com perspectivas de faturamento ao redor de R$ 500 milhões por ano. Produzirão etanol, óleo de milho (usado no biodiesel) e o farelo de milho, chamado de DDG (distillers dried grains – destiladores de grão secos, numa tradução literal).

No milho podemos exportar mais de 30 milhões de toneladas neste ano. Somente em julho foram 3,3 milhões, ajudando a escoar esta grande segunda safra e não deixando os preços caírem mais aos produtores. Nas carnes, que este ano têm margens mais beneficiadas pelo menor custo de ração, também tivemos crescimento de 13,2%, acumulando US$ 1,3 bilhão em vendas. Segundo estudo da OMC, o Brasil é o terceiro exportador agrícola do mundo, atrás da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos, representando 5,1% do total mundial. Em 2016 quase 25% das nossas exportações foram para a China, e devem crescer.

Impulsionada por estes incríveis números do agronegócio, a balança comercial brasileira teve um superávit de US$ 6,3 bilhões em julho, advindos de US$ 18,76 bilhões em exportações (14,9% acima) e US$ 12,47 bilhões em importações (6,1% acima). No ano já acumulamos um superávit de US$ 42,51 bilhões, contra US$ 28,22 bilhões no mesmo período de 2016. Podemos fechar o ano com superávit de US$ 60 bilhões, dando grande contribuição ao governo e à nossa sociedade neste momento de retomada da economia.

A novidade empresarial do mês foi a inauguração da usina de milho da FS Bioenergia em Lucas do Rio Verde, investimento de R$ 450 milhões com perspectivas de faturamento ao redor de R$ 500 milhões por ano. Produzirão etanol, óleo de milho (usado no biodiesel) e o farelo de milho, chamado de DDG (distillers dried grains). É próxima de uma fábrica de rações e de biodiesel, o que deve permitir a circularidade de produtos. Esta unidade pode moer 50 mil toneladas de milho por mês e produzirá 240 milhões de litros por ano. O capital é de 75% da empresa americana Summit e 25% da Fiagril. A Datagro acredita que na safra 2017/18 teremos já 750 milhões de litros sendo produzidos no Brasil, mais etanol no mercado.

Enfim, as notícias de agosto no geral foram razoáveis ao agro em termos de produção e ligeiramente negativas em termos de preços pelos fatores listados acima. Tínhamos crescente expectativa de que os preços de milho e soja subiriam, mas a divulgação da estimativa de safra do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) foi uma ducha de água fria neste mês, mesmo com as crescentes importações chinesas. Resta esperar o próximo anúncio, dia 12 de setembro. Até lá, muita expectativa. No cenário econômico e político, na minha leitura aconteceu o menos pior. Deixamos este governo que aí está terminar seu trabalho e vamos pressionando ferozmente pelas reformas estruturantes, privatizações e corte de gastos e de benefícios e estruturas estatais.

 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.