Projetos da cidade olímpica atendem a interesses empresariais, segundo professor

Sem negociação com a sociedade civil, Rio de Janeiro concentra em área nobre a maior parte dos investimentos, aponta pesquisador

 29/07/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 20/06/2018 as 10:50
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Foto: Reprodução / Revista USP n.108
Foto: Reprodução / Revista USP n.108

Escrito por Gilmar Mascarenhas, professor do Instituto de Geografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e líder do grupo de pesquisa Megaeventos Esportivos e Cidades, o artigo Rio de Janeiro 2016: a cidade do movimento traz uma análise crítica das motivações e consequências do projeto urbanístico empreendido para a realização da Olimpíada do Rio de Janeiro.

Mascarenhas afirma que, “na contramão das tendências em curso, isto é, do evidente processo de transição vivido atualmente no universo do Movimento Olímpico Internacional, o Rio de Janeiro caminha para desenhar a última edição faustosa e megalômana da história recente dos Jogos Olímpicos de Verão”, em virtude do desgaste da reputação do Comitê Olímpico Internacional (COI) e das numerosas desistências de candidaturas olímpicas por parte de cidades ao redor do globo. Segundo o professor, esses fatos e os elementos que compõem a megalomania da Olimpíada do Rio de Janeiro colocam o evento “numa posição relevante para todos aqueles dedicados ao estudo dos megaeventos esportivos e das novas tendências em curso”.

Traçando um histórico dos antecedentes da candidatura da cidade brasileira a sediar a Olimpíada, que retrocede até o início dos anos 1990, Mascarenhas mostra uma mudança na postura da administração da cidade em relação aos planos iniciais: de início, quando pleiteou a nomeação para a edição de 2004, o projeto urbanístico baseava-se na “redistribuição espacial de recursos e de equipamentos, para tornar a cidade menos perversa em sua geografia social”. Quando conseguiu o posto de sede olímpica para 2016, “sem qualquer canal de negociação com a sociedade civil e movida por um urbanismo mercadófilo, a gestão da cidade se orienta no sentido de atender aos diversos interesses empresariais, concentrando em área nobre (o entorno da Barra da Tijuca) a maior parte dos investimentos”.

A partir daí, o professor detalha em seu artigo diversas decisões e projetos no mínimo questionáveis postos em prática na construção da cidade olímpica, desde um número recorde de remoções de moradores das áreas periféricas da cidade e políticas de transporte público que ignoram aspectos técnicos fundamentais até a intensa degradação ambiental de áreas de preservação da cidade, sempre, segundo o texto, visando à especulação imobiliária e interesses privados. Mascarenhas conclui que “‘elitização’ pode ser considerada uma palavra-chave para definir a experiência carioca na produção da cidade olímpica” e que o projeto Rio 2016 é, em grande medida, “um retrato da atual fase ‘neodesenvolvimentista’ do Brasil”.

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